VARIAÇÃO LINGUÍSTICA


Às variações de pronúncia, vocabulário e gramática pertencentes a uma determinada língua chamamos de dialetos. Os dialetos não ocorrem somente em regiões diferentes, pois numa determinada região existem também as variações dialetais etárias, sociais, referentes ao sexo masculino e feminino, de escolaridade, situacional, profissional e estilísticas. O sotaque não pode ser confundido com dialeto. 

“A questão é que certas diferenças fonéticas entre sotaque podem ser estigmatizadas pela sociedade, da mesma forma como certas diferenças lexicais e gramáticas entre os dialetos o são. 
O sotaque e o dialeto de uma pessoa varia sistematicamente segundo a formalidade ou informalidade da situação em que se encontra." 
( Linguagem e linguística. Uma introdução -John Lyons).

As transformações que vão acontecendo na língua se devem também à elite que absorve alguns termos de dialetos de classes mais baixas, provocando uma mudança linguística, e aí o “erro” já não é mais erro... e nesse caso não se diz que a elite “corrompe” a língua.

(Adaprtação do texto de Ana Cláudia Fernandes Ferreira anaclau@iel.unicamp.br)



“Uai, rilés”


http://mangabastudios.blog.uol.com.br/arch2004-11-01_2004-11-30.html
Levar o aluno a compreender que “Uai, rilés” seria o modo de escrever, apoiado no modo de falar dos mineiros, do termo inglês “wireless”, que significa sem fio.

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VARIANTE ETÁRIA
 O comercial do sabonete é um texto legal para tratar de variação linguística e expressões populares ao mesmo tempo: o que é uma pessoa "arroz de festa", o que significa o rapaz ser "um pão"? A forma como neta e avó usam a língua cada uma no seu tempo mostra a variante linguística etária.


VARIANTES GEOGRÁFICAS










Assaltante Nordestino- Ei, bichim...
- Isso é um assalto... Arriba os braços e num se bula nem se cague e nem faça bagunça...Arrebola o dinheiro no mato e não faça pantim senão enfio o peixeira no teu bucho e boto teu pra fora!”
- Perdão meu Padim Ciço, mas é que eu tô com uma fome de moléstia...

Assaltante Mineiro
- Ô sô, prestenção... Isso é um assalto, uai...
- Levanta os braços e fica quetin que esse trem na minha mão tá cheio de bala...
- Mió passá logo os troado que eu num tô bão hoje.
- Vai andando, uai! Tá esperando o que uai!!

Assaltante Gaúcho- Ô guri, ficas atento... Báh, isso é um assalto.
- Levantas os braços e te quieta, tchê.
- Não tentes nada e cuidado que esse facão corta uma barbaridade, tchê.
- Passa as pilas prá cá! E te manda a la cria, senão o quarenta e quatro fala.

Assaltante Carioca- Seguiiinnte, bicho ... Tu te fudeu. Isso é um assalto...
- Passa a grana e levanta os braço rapá... Não fica de bobeira que eu atiro bem pra caralho
- Vai andando e se olhar pra trás vira presunto...

Assaltante Baiano
- Ô meu rei... ( longa pausa)
- Isso é um assalto... (longa pausa)
- Levanta os braços, mas não se avexe não... (longa pausa)
- Se num quiser nem precisa levanta, pra num ficar cansado... Vai passando a grana, bem devagarinho...(longa pausa)
- Num repara se o berro está sem bala, mas é pra não ficar muito pesado... Não esquenta, meu irmãozinho,(longa pusa)
- Vou deixar teus documentos na encruzilhada...

Assaltante Paulista- Ôrra, meu... Isso é um assalto, meu... alevanta os braços, meu.
- Passa a grana logo, meu...
- Mais rápido, meu, que eu ainda preciso pegar a bilheteria aberta pra comprar o ingresso do jogo do Curintia, meu... Pô, se manda, meu...

Assaltante de Brasília- Querido povo brasileiro, estou aqui, no horário nobre da TV para dizer que no final do mês,aumentaremos as seguintes tarifas: água, energia, esgoto, gás, passagem de ônibus, IPTU, IPVA, licenciamento de veículos, seguro obrigatório, gasolina, álcool, imposto de renda, IPI, ICMS, PIS, COFINS.

Texto Retirado da Internet – Autor Desconhecido.

NOMES DE COMIDAS



Internetês não empobrece a língua.
É uma grafia, um modo  de grafar palavras, usada em um suporte específico, dentro de um contexto específico. Tem um papel de criador de identidade, código. 

Sirio Possenti fala sobre o "Internetês" assunto que foi capa da revista "Discutindo Língua Portuguesa" no programa Sem Censura da TVE/RJ




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O gerundismo proporciona o descompromisso.

Sírio Possenti, colaborador da revista "Discutindo Língua Portuguesa" fala sobre Gerundismo no programa "Quarto poder" da Tv Assembléia. O tema foi matéria de capa da revista.



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Escala Educacional - Sem Censura - TVE/RJ - Sírio Possenti
http://efp-ava.cursos.educacao.sp.gov.br/Resource/282801,566,29C/Assets/Portugues/modulo07/por_m07t01-cb.html


FAX DO NIRSO

Um gerente de vendas recebeu o seguinte fax de um dos seus novos vendedores:
"SEO GOMIS, O CRIENTE DE BELZONTE PIDIU MAIS
CUATRUCENTA PESSA. FAZ FAVOR TOMÁ AS
PROVIDENSSA.
ABRASSO,
NIRSO."

Aproximadamente uma hora depois, recebeu outro:
"SEO GOMIS, OS RELATÓRIO DI VENDA VAI XEGÁ
ATRAZADO PROQUE TÔ FEXANDO UMAS VENDA.
TEMO QUE MANDÁ TREIS MIR PESSA. AMANHÃ TÁ
XEGANO."
ABRASSO,
NIRSO."

No dia seguinte:

"SEO GOMIS, NUM XEGUEI PUCAUSA DE QUE VENDI
MAIS DEIS MIR EM BERABA. TÔ INDO PRA
BRAZILHA.
ABRASSO,
NIRSO."


No outro:
"SEO GOMIS, BRAZILHA FEXÔ 20 MIL. VÔ PRA
FROLINÒPOLIS E DI LÁ PRA SUM PAULO NO
VINHÃO DAS CETE HORA.
ABRASSO,
NIRSO."

ASSIM FOI O MÊS INTEIRO. O GERENTE, MUITO PREOCUPADO COM A IMAGEM DA EMPRESA
LEVOU AO PRESIDENTE AS MENSAGENS QUE RECEBEU DO VENDEDOR.

O presidente escutou atentamente o gerente e disse:
“Deixa comigo que tomarei as providências necessárias.“


E tomou...
REDIGIU DE PRÓPRIO PUNHO UM AVISO E O AFIXOU NO
MURAL DA EMPRESA, JUNTAMENTE COM AS MENSAGENS DE FAX DO VENDEDOR:

"A PARTI DE OJE NOIS TUDO VAMO FAZÊ FEITO O
NIRSO. SI PRIOCUPÁ MENOS EM ISCREVÊ SERTO,
MOD VENDÊ MAIZ."
ACINADO,
O PRIZIDENTI".

Viva Mió, e não ci precupe cum detais.
                               


VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS


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Análise gramatical da entrevista dos Nardoni por Rafinha Bastos e Marcelo Mansfield.


Chopis CentisMamonas Assassinas
Composição : Dinho / Júlio Rasec

Eu 'di' um beijo nela
E chamei pra passear
A gente 'fomos' no shopping,
Pra 'mó de' a gente lanchar
Comi uns bichos estranhos,
Com um tal de gergelim
Até que tava gostoso,
Mas eu prefiro aipim
Quanta gente,
Quanta alegria,
A minha felicidade
É um crediário
Nas Casas Bahia
Quanta gente,
Quanta alegria,
A minha felicidade
É um crediário
Nas Casas Bahia
Paríba!
Joinha, joinha chupetão vamo lá
Chuchuzinho vamo embora
Onde é que entra hein?
Esse tal "Chópis Cêntis"
É muicho legalzinho,
Pra levar as namoradas
E dar uns rolêzinhos
Quando eu estou no trabalho,
Não vejo a hora de descer dos andaime
Pra pegar um cinema, do Schwarzenegger
"Tombém" o Van Daime.
Quanta gente,
Quanta alegria,
A minha felicidade
É um crediário
Nas Casas Bahia
Bem Forte, bem forte
Quanta gente,
Quanta alegria,
A minha felicidade
É um crediário
Nas Casas Bahia


Artigo: A LÍNGUA DE EULÁLIA

Artigo: 'A batalha da língua na guerra das culturas'


Tendência analítica da língua


    Quando, em trabalho com professores e professoras em formação ou já em atuação, apontamos os defeitos, as incongruências e a franca inutilidade daquelas práticas tradicionais de ensino, a questão inevitável é: “Então se não é para ensinar gramática, é pra fazer o quê?"  
(apud ANTUNES, 2007, p. 13)
  
                                

PRECONCEITO LINGUÍSTICO de Marcos Bagno


"O nosso ensino de língua é reconhecidamente falho, porque não alcança nenhum dos objetivos que supostamente são os seus: não “ensina gramática” (o que é até bom, porque seria um ensino inútil e irrelevante, já que mal fundamentado), não ensina a ler para se reconstruir os sentidos de um texto (o que é um escândalo), e não ensina a escrever segundo as normas urbanas de prestígio contemporâneas (o que é trágico)."
(Marcos Bagno)


A polêmica sobre o "falar popular" revela a necessidade de dialogar com os alunos não familiarizados com a norma-padrão

Qué apanhá sordado?
- O quê?
- Qué apanhá?
Pernas e cabeças na calçada.

É óbvio: o célebre poema O Capoeira, de Oswald de Andrade (1890-1954), está quase integralmente em desacordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa. Isso não impede, entretanto, que Pau Brasil, o livro de 1925 em que o texto está incluído, seja estudado nas escolas e frequente as listas de leitura obrigatória das mais concorridas universidades do país.

Do regionalismo de Jorge Amado à prosa contemporânea da literatura marginal, passando pelo modernismo de Mário de Andrade e Guimarães Rosa, refletir sobre as variedades populares da língua, típicas da fala, tem sido uma maneira eficaz de levar os alunos a compreender as formas de expressão de diferentes grupos sociais, a diversidade linguística de nosso país e a constatação de que a língua é dinâmica e se reinventa dia a dia.

A discussão, porém, tomou um caminho diferente no caso do livro Por Uma Vida Melhor, volume de Língua Portuguesa destinado às séries finais na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Um excerto do capítulo "Escrever É Diferente de Falar" foi entendido como uma defesa do "falar errado". Muitas pessoas expressaram o temor de que isso representasse uma tentativa de desqualificar o ensino das regras gramaticais e ortográficas que regem a Língua Portuguesa. De fato, não se pode discutir que o papel da escola é (e deve continuar sendo) ensinar a norma culta da língua.

Conhecer e dominar a comunicação segundo o padrão formal representa, sem dúvida, um caminho poderoso para a ascensão econômica e social de indivíduos e grupos. Acima de tudo, é uma das maneiras mais eficazes por meio das quais a escola realiza a inclusão social: permitir o acesso a jornais, revistas e livros é abrir as portas para todo o conhecimento científico e filosófico que a humanidade acumulou desde que a escrita foi inventada.

Mas, afinal, do ponto de vista da prática pedagógica, está correto contemplar nas aulas a reflexão sobre as variantes populares da língua? A resposta é sim. A questão ganhou relevância com a universalização do ensino nas três últimas décadas. Com a democratização do acesso à Educação, a escola passou a receber populações não familiarizadas com a norma-padrão. Nesse percurso, surgiu a tese de que falar "errado" representava um impedimento para aprender a escrever "certo". Pesquisas na área de didática mostraram exatamente o contrário: o contato com a norma culta da escrita impacta a oralidade. Ao escrever do jeito previsto pelas gramáticas, o aluno tende a incorporar à fala as estruturas e expressões que aprendeu.

Contemplar as variantes da língua exige preparo docente

Não custa enfatizar, entretanto, que o respeito às variedades linguísticas por meio das quais os estudantes se expressam ao chegar à escola não significa que o professor deva abrir mão do ensino da norma culta. Ao contrário. O que se pretende é que a reflexão sobre as relações entre oralidade e escrita leve os estudantes a compreender a linguagem como uma atividade discursiva. Ou seja, um processo de interação verbal por meio do qual as pessoas se comunicam.

Pensar a fala e a escrita como discurso não é pouca coisa: exige competência para planejar a expressão de acordo com o lugar em que ela vai circular (uma conferência acadêmica? Uma conversa no jantar?), levando em conta seus interlocutores (uma autoridade? Um grupo de amigos?) e a finalidade da comunicação (expor um argumento? Relembrar uma lista de compras?). Dessa perspectiva, os gêneros escritos continuam com espaço cativo. A diferença (para melhor) é que você, professor, deve ocupar-se também das situações formais de uso da linguagem oral (seminários, entrevistas, apresentações etc.), igualmente fundamentais para o exercício da cidadania.

Cabe lembrar, ainda, que valorizar os modos de expressão coloquiais é uma opção especialmente válida na EJA. As experiências indicam com clareza que iniciar o trabalho mostrando a utilidade daquilo que os estudantes conhecem é um dos pontos de partida mais eficazes para mobilizar o público dessa etapa de ensino - adolescentes e adultos com trajetórias escolares marcadas pela falta de oportunidades, o abandono e a multirrepetência, vários empurrados para fora das salas por um ensino excessivamente apegado à repetição de nomenclaturas e à memorização de regras estruturais.

Por trás da crítica ao diálogo da escola com os saberes populares está a defesa, muitas vezes inadvertida, de um sistema educacional campeão em evasão, reprovação e analfabetismo funcional. Como o que construímos até hoje.

de Rodrigo Ratier
(rodrigo.ratier@abril.com.br)


Sotaque da Mooca pode virar patrimônio imaterial de SP
O "cantado" modo de falar da Mooca, bairro da zona leste de São Paulo, que inclui também expressões nacionalmente famosas como "orra meu" e "belo", pode se tornar o primeiro bem imaterial protegido da cidade.
Está no Conpresp (conselho municipal do patrimônio histórico) um pedido para transformar o "mooquês" em patrimônio de São Paulo.
A ideia é registrar e preservar esse jeito peculiar de falar de parte dos paulistanos.
"Fico maravilhada com a ideia", afirma Crescenza Giannoccaro de Souza Neves, presidente da Associação Amo a Mooca.
Ela faz, porém, uma ressalva sobre uma característica atribuída ao modo de falar dos moradores do bairro: a falta de "s" nos plurais.
"Os imigrantes, quando chegaram, tinham dificuldade de dizer os plurais, pois era diferente da língua deles. Nós, descendentes, também falamos cantado, mas usamos bem os plurais."

MISTURA DE LÍNGUAS?
No bairro, os moradores dizem que, diferentemente do que muitos pensam, o modo de falar não tem origem apenas em quem veio da Itália _maioria numa região da cidade cheia de cantinas.
"O jeito de falar na Mooca foi criado por todo mundo que veio viver aqui. Italianos, espanhóis, lituanos, nordestinos", diz Oreste Ferri, 81, ex-jogador da Portuguesa e, é claro, do Juventus, time que é uma paixão por ali.
No entanto, basta conversar com um imigrante vindo da Itália para perceber que o idioma italiano é a principal fonte do "mooquês".
Conversando, o brasileiro Nelson Carone, 67, e o italiano Antonino Mazzeo, 78, vizinhos há décadas, parecem irmãos.
Entre trechos de "O Sole Mio", tradicional canção italiana, entoada por Mazzeo professor aposentado e ex-cantor de cantina que vive no Brasil desde os 18 anos, os dois "irmãos" dão opiniões sobre a ideia de "tombar" o sotaque da Mooca.
"Fico muito feliz. O sotaque está sobrevivendo. Meu filho tem 32 anos e ama a Mooca, já colocou a camisa do Juventus no filho", diz Carone, embalando o carrinho de bebê, onde o neto dorme. "Ele já está falando igualzinho, puxando o italianinho."
Mazzeo, porém, é menos otimista. "Acho difícil nosso modo de falar sobreviver ao tempo. Já está se perdendo."

EFEITO PRÁTICO
Mauro Dunder, mestre e doutorando em letras pela USP que estudou o vocabulário da região da Mooca, afirma que não há como uma língua, ou simplesmente o modo de falar, ser preservado.
"A língua é um organismo vivo, que se manifesta de maneira espontânea e se perpetua ou não de acordo com uma série de fatores externos, como o crescimento do bairro, por exemplo."
Já a antropóloga Fernanda Marcon, doutoranda pela UFSC (Federal de Santa Catarina), diz que registrar como bem um modo de falar ajuda a mantê-lo vivo, nem que seja como memória.
"É importante para efeito de documento histórico. Para que façam gravações, incentivem manifestações culturais", afirma.

RECONHECIMENTO
Segundo a Secretaria Municipal da Cultura, por meio de sua assessoria, não há previsão para que o pedido para tornar o sotaque patrimônio da cidade, feito pelo vereador Juscelino Gadelha (PSDB) em 2009, seja incluído na pauta do Conpresp.
Segundo a Folha apurou, o problema é que a equipe responsável pela análise dos pedidos de proteção ao patrimônio é formada principalmente por arquitetos.
Com isso, faltam profissionais como antropólogos, sociólogos e linguistas para que propostas sobre bens imateriais passem adiante.
Questionada, a pasta confirmou que o corpo técnico do DPH (Departamento do Patrimônio Histórico), órgão de assessoramento do conselho, "é formado, em sua maioria, por arquitetos".
Com ou sem o reconhecimento, os "mooquenses" dizem que o amor ao bairro não muda. "Quem mora na Mooca diz que é da Mooca e 'è finito' [é o fim]", diz Carone.

ADRIANO BRITO
ANDRESSA TAFFAREL
REFERÊNCIA http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/925287-sotaque-da-mooca-pode-virar-patrimonio-imaterial-de-sp.shtml
Folha on-line 05/06/2011 - 03h00
Revista Escola